José Zeferino Pedrozo é presidente da FAESC e do SENAR/SC
Santa Catarina é uma terra admirável em muitos aspectos e sua capacidade de produção econômica é extraordinária, inversamente proporcional ao seu diminuto território. Nesse contexto de magnitudes, a agricultura e o agronegócio constituem um universo onde a técnica e o talento dos catarinenses se manifestam plenamente.
Paralelamente às expressões grandiloquentes da avicultura, da suinocultura, da produção de grãos e de leite, a produção de carne bovina é um dos únicos setores onde não foi possível, ainda, obter-se a autossuficiência e a produção de excedentes exportáveis. Esse fato decorre de um determinismo geográfico: é que a estrutura fundiária das propriedades rurais (em sua maioria minifúndios) e a topográfica acidentada que predomina no território favoreceram a produção intensiva de pequenos animais, como aves e suínos, e não motivaram a criação de gado de corte.
Santa Catarina exporta carnes de aves e suínos para 160 países, mas produz apenas a metade da carne bovina que consome. Para reduzir essa dependência de fontes externas e buscar, paulatinamente, a autonomia, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesc) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Santa Catarina (Senar/SC) desenvolvem o Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), com foco na pecuária de corte.
A clientela desse programa é formada por produtores rurais de pequeno e médio portes com vocação e estrutura para a atividade de pecuária. O objetivo é promover a inovação na gestão de propriedades rurais e, desde que foi criada em 2016, a ATeG atendeu mais de 2.700 produtores em 184 municípios catarinenses. A capacidade potencial da ATeG robustecer a cadeia produtiva – através da capacitação dos criadores, produtores e empresários rurais – é imensa. De acordo com a Cidasc, os bovinos estão presentes em todos os 295 municípios catarinenses. Assim, não há dúvidas que qualificar os pecuaristas e ampliar a produção de carne representará desenvolvimento para todas as regiões do território barriga-verde.
Treinar e capacitar representam uma das estratégias fundamentais para fortalecer a cadeia produtiva do setor. Nesses cinco anos foram prestadas 244.248 horas de consultorias técnicas e gerenciais com suporte em gestão, genética, manejo, melhoria da alimentação e das instalações dos estabelecimentos rurais – atividades gratuitamente sustentadas em um período de 24 meses – beneficiando 2.771 estabelecimentos rurais em 184 municípios.
A busca da eficiência produtiva é a linha central: cada técnico atende o produtor com foco na transmissão de conhecimentos relacionados à gestão da empresa rural e técnicas de manejo voltadas às atividades de cada propriedade. As visitas técnicas e gerenciais contemplam aplicação de metodologias sobre custos de produção, análise de dados e indicadores baseados no planejamento estratégico de cada propriedade.
Como mencionei, o Senar/SC iniciou o ATeG no Estado em 2016 com o objetivo de promover a inovação na gestão de propriedades rurais catarinenses em diferentes cadeias produtivas. A cadeia de gado de corte revelou-se uma das mais promissoras. Relatos dos egressos comprovam resultados surpreendentes em relação ao crescimento das propriedades. O programa representa um avanço na capacitação dos produtores rurais, preparando-os para a condução das atividades com uma visão empresarial e o emprego de avançadas técnicas de gestão e controle. Muito mais do que quantidade, destacam-se os resultados com altos índices de produtividade e uma gestão paradigmática para quem quer inovar.
Inquestionavelmente, é notória a evolução (vertical e horizontal) da cadeia produtiva de carne bovina em Santa Catarina. Os serviços de inspeção (SIF, SIE e SIM) se modernizaram. Os produtores incorporaram genética de alta qualidade com as melhores práticas de produção em manejo, nutrição e sanidade. Os frigoríficos empregam modernas tecnologias em abate e processamento adotados pela indústria mundial da proteína animal. Bem-estar animal é política presente e a sustentabilidade impregna as fases do processo, do início ao fim.
A ciência e a tecnologia desconstruíram as estultices que néscios e insensatos falsamente criaram (fake news) sobre a moderna bovinocultura, as quais o mercado ignorou e os consumidores desprezaram. Ano a ano, Santa Catarina aumentará sua produção de carne bovina e, no futuro, estaremos em condições de exportar para o Brasil e o Mundo mais um produto com o padrão catarina de qualidade.
Fonte: José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/SC).
Fonte: feedfood.com.br