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13/09/2022

Preços já começam a cair, e parte dos agricultores, à espera de valores menores, retardou as compras.
O cenário de extrema dificuldade na obtenção de fertilizantes, como o esperado no início deste ano, não se confirmou. Apesar da alta de preços, não faltou produto.

A entrega do fertilizante nas fazendas nesta reta final do ano, no entanto, pode ser um corre-corre.

A afirmação é de Marcos Stelzer, CEO (presidente-executivo) da Galvani, empresa nacional com um sistema integrado de produção. Após a intensa elevação, principalmente por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços já começam a cair, e parte dos agricultores, à espera de valores menores, retardou as compras.

A dificuldade na entrega será acompanhada de um custo maior dos fretes, devido a essa concentração de pedidos, segundo o executivo. Há 33 anos nesse ramo, ele afirma que não há um ano igual a outro, sempre acontece algo.

O consumo interno de fertilizantes vem aumentando ano a ano, mas as indústrias nacionais perderam força nas últimas décadas, em relação à oferta do produto importado. Há 20 anos, o país produzia 60% do que consumia. Hoje, são 20%, afirma Stelzer.

Neste ano, no entanto, a indústria nacional elevou a oferta de produto no mercado interno. Dados da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) mostram que a produção nacional subiu para 3,8 milhões de toneladas, 17,4% a mais do que em igual período de 2021.

"Passamos por um período nervoso, com alta dos preços, mas que já começam a voltar. Existe uma tensão, porém, que vai continuar devido aos efeitos das medidas tomadas pelos embargos", afirma o executivo da Galvani.

Embora os preços não voltem aos patamares anteriores, enquanto persistir essa tensão, os produtores vão ter uma melhor relação de troca no próximo ano, segundo ele.

A alta dos preços e a perda na relação de troca entre as commodities e os fertilizantes vão provocar uma retração na entregas de fertilizantes para 42 milhões de toneladas neste ano, abaixo dos 46 milhões de 2021. No próximo ano, as vendas voltam para 46 milhões, estima Stelzer.

O executivo da Galvani afirma que o Brasil desacelerou a produção de adubos nos últimos anos, mas que haverá uma expansão nos próximos. A própria Galvani, que tem operações integradas no oeste da Bahia, sairá de uma produção de 650 mil toneladas de fosfatados para 1,2 milhão em 2024, após investimentos de R$ 200 milhões.

A empresa possui a mina, a unidade de concentração mineral e a de fabricação, além de fazer a distribuição.

A Galvani colocará ainda no mercado 350 mil toneladas, em 2024, provenientes de outra mina, em Irecê (BA).

"É um desafio constante porque temos de lidar com sazonalidade, com estoques, além de entender de macroeconomia, dólar, preço de commodities, geopolítica e logística", diz Stelzer.

A Galvani desenvolve também um projeto em Santa Quitéria (CE). Quando em operação, cujo início está estimado para daqui a quatro anos, a produção de fertilizantes fosfatados deverá atingir 1 milhão de toneladas; a de fosfato bicálcico, 220 mil toneladas. Este é destinado à suplementação alimentar de animais.

Com investimentos de R$ 2,3 bilhões no projeto, a empresa espera obter uma participação de 25% no mercado de fertilizantes do Norte e Nordeste e de 50% no de fosfato bicálcico.

É uma região de demanda crescente, tanto para a área agrícola como para a pecuária, segundo o CEO. Além da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a Galvani quer fornecer produtos para Mato Grosso, com transporte via barcaças.

O executivo acredita em avanços na produção brasileira de fertilizantes. O Plano Nacional de Fertilizantes põe luz no problema, embora sejam mais de 200 ações. "Como executar tudo isso?", pergunta o executivo. Na avaliação dele, pelo menos três pontos seriam básicos.

Primeiro, não haver retrocesso na questão tributária. Existe um movimento entre alguns estados para que isso ocorra. Segundo, financiamentos para projetos integrados com debêntures incentivadas, como já existe para a construção civil e o agronegócio.

Terceiro, é necessária uma maior celeridade nos licenciamentos. Hoje, ninguém prevê quando vai sair a licença prévia. "Não queremos pular etapas. Tem de haver muito rigor, mas o órgão encarregado tem de ser mais célere e se comprometer com determinadas datas", afirma.

Szelter acredita, ainda, que o setor está muito exposto a decisões unilaterais de outros países, o que gera uma volatilidade de preços.

 

Seria interessante uma forma de banda de preços, que seria gerida, quando ultrapassar o patamar superior ou o inferior, por um fundo próprio do setor.

Para o mercado interno, Szelter diz que é possível o destravamento de projetos. É um erro pensar que o país não tem fosfato. Já no cenário externo, Marrocos, Arábia Saudita e Canadá deverão aumentar a oferta de produto.

A grande incógnita é a China, que tem peso no mercado internacional.