• Telefone: +55 16 3934-1055 / +55 16 3615 0055
  • E-mail: ferraz02@ferrazmaquinas.com.br
01/02/2025 Por Jomar Carvalho Filho - Panorama da Aquicultura

Sem surpresas, o bom desempenho da tilápia e do camarão fizeram o setor faturar 9,4 bilhões de reais

Como de costume, outubro é o mês em que o IBGE divulga os números da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) referentes ao desempenho do ano anterior. A PPM é uma pesquisa anual, tendo sido realizada pela primeira vez em 1945, portanto há 80 anos. Desde então informa ao setor da pecuária brasileira, com riqueza de detalhes e com dados colhidos em todos os municípios brasileiros, o efetivo de bovinos, suínos, caprinos e aves, além do volume e valor da produção de leite, ovos, lã e mel. São informações de valor que orientam produtores, fornecedores de insumos, comerciantes e profissionais que cuidam da sanidade animal a se posicionarem melhor no atendimento das necessidades do mercado. Além disso, são informações de grande serventia para que gestores públicos e associações setoriais possam nortear políticas públicas, desenvolver programas de extensão rural e monitorar, por exemplo, movimento de rebanhos.

Há dez anos a aquicultura foi incorporada à Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE, e desde então passou a receber o mesmo tratamento dispensado às demais atividades pecuárias, o que significa dizer que tanto a coleta e como o tratamento dos dados coletados no campo são feitos utilizando os mesmos critérios e metodologias já validadas por outros setores da pecuária brasileira.

Todas as informações coletadas pelo IBGE sobre a aquicultura – assim como as demais cadeias da pecuária – estão disponibilizadas gratuitamente na internet para quem estiver interessado. Trata-se de um banco de dados fácil de ser manipulado, que oferece enormes possibilidades de resgate de informações e de cruzamentos de dados.

O ano aquícola de 2023

Mais uma vez impulsionada pela boa performance da tilapicultura, a produção total de peixes para consumo alcançou 655 mil toneladas em 2023, registrando um crescimento de 5,8% em relação ao que foi produzido no ano anterior. Esse grande volume é proveniente de diferentes sistemas de produção, entre os quais ainda se destacam os viveiros escavados e os tanques-rede. Sistemas fechados, com tecnologia de recirculação, contemplando o reuso da água e maior controle sanitário, ainda são pouco utilizados. As 655 mil toneladas de peixes despescadas em 2023 foram avaliadas em R$ 6,6 bilhões, superando em 16,7% o valor obtido em 2022 (Tabela 1).

 

Tabela 1 – Quantidade produzida e o valor da produção dos principais produtos da aquicultura brasileira em 2023, e a variação do crescimento em relação a 2022
Tabela 1 – Quantidade produzida e o valor da produção dos principais produtos da aquicultura brasileira em 2023, e a variação do crescimento em relação a 2022

Os números apurados pelo IBGE para a carcinicultura brasileira em 2023 mostram que o setor manteve o viés de crescimento observado no ano anterior, impulsionado, principalmente, pela expansão das unidades produtivas de pequeno porte nos municípios distantes do litoral, como tem sido observado no estado do Ceará. Segundo o IBGE, a produção de camarão em 2023 atingiu as 127 mil toneladas, um volume nunca antes despescado no Brasil, registrando um crescimento de 12,9% em relação ao que foi produzido em 2022. As despescas foram avaliadas em R$ 2,6 bilhões, superando em 18,3% o valor apurado no ano anterior.

Já a produção de moluscos (malacocultura) manteve o viés de queda observado a partir de 2015. Em 2023, o IBGE apurou que a produção de mexilhões, ostras e vieiras foi de apenas 8,7 mil toneladas. Para entender o que isso significa, basta comparar com o volume produzido em 2014, que foi de 22 mil toneladas. A produção de 2023 sofreu uma queda de 12,53% em relação ao que foi produzido em 2022, e foi avaliada em R$ 102 milhões, um valor 2,8% maior que o apurado em 2022.

Formas jovens: os insumos biológicos 

A procedência das formas jovens tem merecido cada vez mais a atenção dos aquicultores. Alevinos de peixes e pós-larvas de camarões provenientes de programas de melhoramento genético passaram a ser objeto do desejo de muitos produtores, mesmo daqueles que até bem pouco tempo atrás desconheciam a forma como esses animais são capazes de mudar um modelo de negócio, principalmente os já impactados com doenças, grandes períodos de engorda e pouco crescimento. Em razão disso, o comércio de alevinos de peixes, pós-larvas de camarão e sementes de ostras e vieiras guardam um enorme potencial de crescimento, na medida em que são capazes de assegurar melhores resultados.

O IBGE apurou que em 2023 foram comercializados 20,5 bilhões de unidades de alevinos das diversas espécies criadas no país (Tabela 2). Esse volume superou em 4,75% o que foi produzido em 2022, e foi avaliado em R$ 263 milhões.  

Tabela 2 – Produção de formas jovens – pós-larvas de camarão, alevinos e sementes de moluscos – em 2023 e a variação (%) do crescimento em relação a 2022
Tabela 2 – Produção de formas jovens – pós-larvas de camarão, alevinos e sementes de moluscos – em 2023 e a variação (%) do crescimento em relação a 2022

Na carcinicultura, 1,6 bilhão de pós-larvas de camarões foram produzidas nas larviculturas do país, superando em 6,13% o que foi produzido em 2022. Essa enorme biomassa foi avaliada em R$ 485 milhões, um valor 19,1% maior que no ano anterior.

 

Já a produção de sementes de moluscos atingiu 57, 5 milhões de unidades, uma quantidade 13,07% menor que a disponibilizada aos produtores em 2022. Ainda que tenha sido menor, essa produção foi avaliada em R$ 3,1 milhões, valor 4,18% superior ao valor apurado no ano anterior. Ao todo, o mercado de insumos vivos movimentou R$ 750 milhões em 2023.

A piscicultura em 2023 

A PPM do IBGE apurou que o volume total de peixes de água doce para consumo alcançou, em 2023, a marca de 655 mil toneladas, um recorde que tem correlação direta com o bom desempenho da tilápia, que contribuiu com 442 mil toneladas (68,4%) para esse total. O IBGE apurou também que o volume despescado de tilápia cresceu 7,64% em todo o país. Criações de tilápia estão presentes em praticamente todos os estados, à exceção de Roraima e Amazonas. A PPM encontrou tilapiculturas em 2.640 dos 4.039 municípios pesquisados.

Na Tabela 3 é possível observar o ranking dos estados que mais produzem peixes, e a produção de tilápia em cada um desses estados, com os respectivos percentuais de participação da tilápia no total apurado. 

Tabela 3 – Ranking por volume de peixes produzidos para consumo, e a participação da tilápia no total produzido por cada estado e Distrito Federal
Tabela 3 – Ranking por volume de peixes produzidos para consumo, e a participação da tilápia no total produzido por cada estado e Distrito Federal

No Paraná, estado que lidera a produção de peixes cultivados, foram produzidas 171 mil toneladas, e a tilápia representou 96,8% deste total. O estado de São Paulo, segundo no ranking de 2023, produziu 60,5 mil toneladas, com a tilápia participando com 93,6% do total. Rondônia, estado que aparece em terceiro lugar no ranking, se configura como uma exceção. O estado produziu 51,3 mil toneladas de peixes, tendo a tilápia uma participação desprezível (0,2%). A força da piscicultura de Rondônia reside na criação do tambaqui, que contribuiu com 47,1 mil toneladas, ou 92% do total despescado no estado. Nos estados de Minas Gerais, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, e no Distrito Federal, a tilápia teve uma participação acima de 70% na composição dos peixes de água doce cultivados. Na média nacional, a tilápia representou 68,4% do volume total. O ranking dos 10 municípios que lideram a produção de tilápia no país pode ser visto na Tabela 4. O destaque, segundo o IBGE, ficou por conta do município de Morada Nova de Minas (MG), que liderou o ranking nacional com a produção de 20 mil toneladas, fruto de crescimento espetacular de 42,86% em apenas um ano. Na segunda posição vem o município de Nova Aurora (PR), que liderou a produção em 2022 e registrou uma queda de 19,87% na produção em 2023, passando para o segundo lugar. Jatobá, município pernambucano, ocupou a terceira posição, seguido de Palotina, no Paraná. Entre os dez municípios que lideram a produção de tilápia no país, 7 estão no estado do Paraná.

Tabela 4 – Ranking dos 10 municípios que mais produziram tilápia em 2023 e a variação da produção em relação a 2022
Tabela 4 – Ranking dos 10 municípios que mais produziram tilápia em 2023 e a variação da produção em relação a 2022

Depois da tilápia, o tambaqui continua sendo a segunda espécie mais cultivada (Tabela 5), estando presente em todos os estados e Distrito Federal. Em 2023 o país produziu 113 mil toneladas de tambaqui, um volume 3,92% superior ao apurado em 2022, e Rondônia segue liderando a produção nacional. A soma da produção dos diversos peixes conhecidos como “redondos” – tambaqui, pacu, pirapitinga e todos os seus híbridos – foi de 166 mil toneladas. Na Tabela 5, pode ser vista a produção dos principais peixes criados no país, e a variação do desempenho na comparação com o que foi produzido em 2022. O IBGE registrou quedas na produção do tambacu e da tambatinga (-5,6%), carpa (-3,88%), pirarucu (-3,9%), truta (-3,12%) e lambari (-21,86%).

Tabela 5 – Produção dos principais peixes em 2023 e a variação do crescimento em relação a 2022
Tabela 5 – Produção dos principais peixes em 2023 e a variação do crescimento em relação a 2022

Camarão vannamei

A PPM do IBGE encontrou registros de produção de camarão em 17 estados, incluindo Goiás, e no Distrito Federal (Tabela 6). Ao todo, o país despescou 127 mil toneladas em 2023, um volume recorde que superou em 12,9% o que foi produzido em 2022. Produtores, como os do estado do Ceará, que liderou a produção com 72,6 mil toneladas, estão se beneficiando da enorme capacidade de adaptação e crescimento do Penaeus vannamei nas águas oligohalinas. 

Tabela 6 – Ranking da produção de camarão por estado em 2023 e a variação da produção em relação a 2022
Tabela 6 – Ranking da produção de camarão por estado em 2023 e a variação da produção em relação a 2022

O surgimento de novos empreendimentos nos municípios distantes do mar parece ser uma tendência irreversível para o setor. O município de Aracati (CE) liderou a produção nacional, despescando 13,7 mil toneladas, seguido de Jaguaruana (CE), localizado no Vale do Jaguaribe, que ocupou a segunda colocação com 9,9 mil toneladas em águas oligohalinas, seguido de Pendências (RN) com 6,5 mil toneladas. Os municípios de Acaraú (CE), Russas (CE), Limoeiro do Norte (CE), Fortim (CE) e Alto Santo (CE) completam a lista dos 10 municípios que mais produziram camarões em 2023, segundo o IBGE.

Mexilhão, ostras e vieira 

Liderado por Santa Catarina, a criação de moluscos aconteceu em 12 estados litorâneos brasileiros, como pode ser visto na Tabela 7. Com tendência acentuada de queda, a malacocultura brasileira produziu 8,7 mil toneladas, um volume 12,53% menor que aquele produzido em 2022. Santa Catarina, mais uma vez, registrou uma queda de 13,57% na produção. Da mesma forma, a produção caiu no Pará (-1,61%), São Paulo (-46,15%), Maranhão (-8,33%) e Alagoas (-16,67%). A produção de moluscos em 2023, segundo o IBGE, aconteceu em 48 municípios litorâneos brasileiros.

Tabela 7 – Ranking da produção de moluscos por estado em 2023 e a variação da produção em relação a 2022
Tabela 7 – Ranking da produção de moluscos por estado em 2023 e a variação da produção em relação a 2022