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04/05/2020
Imagem: Banco de Imagens Imagem: Banco de Imagens

A crise do novo coronavírus parece atingir todos os universos e não seria diferente com o mundo animal. Afinal de contas, diariamente saem, em todas as mídias, “notícias” de tratamentos mirabolantes contra a Covid-19, bem como receitas mágicas de como não se infectar. No meio de muita informação séria, as fake news se espalham e confundem uma população cada vez mais sensível e em pânico. E tudo isso em pouquíssimos meses: o que, na dinâmica da ciência, é um curto tempo para tantas perguntas e respostas.

E o que o mundo animal tem a ver com isso? Entre tanta informação, logo se supôs que, se o coronavírus se originou de animais na China, por que, então, cães e gatos, tão próximos do ser humano, não poderiam adoecer e participar da transmissão do agente infeccioso? Bastou uma hipótese não confirmada para o pânico se generalizar.

Mas, mesmo antes de se ter uma resposta acadêmica sobre essa possibilidade, uma simples observação nos ajudaria a entender melhor as coisas. Se cães e gatos adoecessem com a Covid-19, não seria óbvio que hospitais veterinários no mundo todo — principalmente na China e na Europa e, mais recentemente, nos Estados Unidos — estivessem abarrotados de pets internados? Só essa observação nos ajudaria a imaginar que os animais de estimação não enfrentam uma doença tão grave como os seres humanos.

Com o desenrolar da pandemia, porém, sugiram relatos isolados de quatro cães e um gato na China e outro felino na Bélgica que testaram positivos para o Sars-CoV-2. Todos tiveram contato com o vírus de tutores que também testaram positivo. Como os veterinários e cientistas enxergam isso? Ora, que os pets contraíram o vírus simplesmente pela convivência com donos infectados.

Mas adquirir a doença ou mesmo passar a transmitir o patógeno… Aí já é outro negócio. Primeiro porque nenhum desses animais apresentou sintomas clássicos de Covid-19. No entanto, em função dessas observações, duas entidades veterinárias internacionais de respeito (a WSAVA e a AVMA) têm sido claras em suas recomendações: pessoas com o diagnóstico do novo coronavírus devem evitar manusear seus pets sem proteção e, de preferência,  devem evitar o contato com eles.

A precaução se faz necessária porque estamos diante de uma doença nova, com meses de evolução pelo mundo. Até que todas as evidências sejam coletadas, convém proteger os animais de estimação da exposição ao vírus. O fato de alguns poucos bichos, em meio a tantos humanos, testarem positivo indica que pode haver contato mas não há sintomas nem complicações como as observadas em humanos.

E o principal: em todos esses casos não se viu transmissão dos pets para os tutores. E, sim, o contrário!

Os gatos no centro das preocupações
Pois bem, em meio à tanta discussão e novidade, saíram dois trabalhos científicos com felinos: um em fase de pré-publicação (o que significa que ainda não foi revisado e avaliado por especialistas da área) e outro divulgado na conceituada revista técnica Science.

No primeiro trabalho, os estudiosos testaram 102 gatos da província de Wuhan, na China (onde tudo começou), e descobriram que 15 deles tinham anticorpos contra o novo coronavírus. O que isso quer dizer? Quer dizer que esses gatos entraram em contato com o vírus, que possivelmente infectou os animais e eles desenvolveram uma resposta imunológica com a produção de anticorpos. Não quer dizer que esses felinos ficaram doentes tampouco que poderiam transmitir a doença a humanos.

Mas a pesquisa da Science, devidamente analisada por cientistas independentes, aponta que gatos e ferrets (ou furões) podem ser infectados pelo Sars-CoV-2 mais facilmente, ao contrário de cães, porcos, frangos e patos. O experimento chegou a essa conclusão após se inocular o vírus em ambiente de laboratório nesses animais. No caso dos gatos, os pesquisadores colocaram animais saudáveis ao lado da gaiola de felinos que foram infectados.

No entanto, é importante reforçar que não tem como dizer que o mesmo possa ocorrer em um domínio de infecção natural, isto é, no ambiente em que vivemos. A carga viral no ambiente pode ser totalmente diferente daquela mimetizada em laboratório.

Com a doença expandindo-se nos Estados Unidos e tendo como epicentro a cidade de Nova York, já saíram relatos de um tigre e outros felinos selvagens do zoológico da cidade com sintomas respiratórios leves após contato com um tratador que tinha histórico assintomático de Covid-19. Os veterinários então colheram amostras de um tigre e deu positivo para os Sars-CoV-2, como mostra essa matéria de VEJA. Os demais animais não foram testados e permanecem em observação e tratamento, todos com evolução favorável do quadro.

E, de novo, o que isso tem a nos dizer? Basicamente que esses felinos selvagens entraram em contato com o vírus. Tudo leva a crer que os casos são brandos e não há risco de complicações como as observadas em humanos. Enfatizo: são milhões de seres humanos infectados, milhares de casos graves com pessoas entubadas e milhares de mortes mundo afora.

A situação é completamente diferente no mundo animal. Não há evidência científica de que pets ou mesmo felinos selvagens adquiram a doença clássica. No caso dos animais domésticos isso é ainda mais claro. E, mais uma vez, os bichos pegam o vírus de seres humanos — e não o contrário!

Ok, mas por que parece que os felinos têm maior propensão a essa infecção viral? A explicação não é nova para os cientistas. Ao contaminar os seres humanos, o novo coronavírus utiliza um receptor denominado ECA2 para entrar na célula. O que se sabe é que os felinos possuem um receptor ECA2 muito semelhante ao dos humanos e diferente daquele dos cães.

Portanto, teoricamente seria esperado que os felinos pudessem ser mais suscetíveis a uma infecção quando comparados aos cachorros, por exemplo. E muito provavelmente essa é a razão de podermos observar gatos com anticorpos para o Sars- CoV-2 na China.

No meio de tantas dúvidas em relação aos pets, um importante laboratório veterinário americano testou para coronavírus milhares de amostras de cães e gatos com sintomas respiratórios. Todas as amostras foram negativas!  Mais uma evidência de que os animais com sintomas respiratórios nas clínicas veterinárias devem ser testados prioritariamente para outros agentes infecciosos comuns a essas espécies. O laboratório não oferece comercialmente a testagem e continua a monitorar as amostras dos pacientes veterinários.

As orientações na prática
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina Veterinária, a exemplo de outras entidades, divulgou uma nota em seu site esclarecendo que, até o momento, não existe necessidade de testar indiscriminadamente os pets para pesquisar a Covid-19.

O que sabemos por ora, e o que vem sendo orientado por instituições como a WSAVA e a AVMA, é que, por enquanto, não existem provas de que os cães e gatos possam transmitir o vírus ou adoecer gravemente com ele. Os poucos casos positivos surgiram do contato com humanos e ou não tiveram sintomas ou apenas um quadro autolimitado.

Repito: a doença é nova e precisamos constantemente monitorar a situação e nos atualizarmos com as descobertas científicas.

No momento, nossa principal orientação é evitar a exposição dos pets a pessoas com suspeita ou confirmação da Covid-19. Lembro, ainda, que bichos que necessitam ir às ruas devem manter, junto aos tutores, as regras de distanciamento social, evitando contato com outras pessoas e animais. E não devemos nos esquecer do papel importante que os pets representam durante a quarentena. Eles nos ajudam a nos cuidar, e nós devemos cuidar deles. Afinal, não tenho dúvida de que são os verdadeiros companheiros dos seres humanos.

fonte: saude.abril, com informações do Blog Pet Saudável (escrita pelo Dr. Mario Marcondes)