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29/03/2021
Imagem: Mint_Images, de envatoelements Imagem: Mint_Images, de envatoelements

Mesmo desprovidos de instrumentos ca-pazes de antever com precisão absolu-ta  o  comportamento  das  variáveis  fu-turas que influenciarão o desempenho das matérias-primas agrícolas, a firme demanda atual por alimentos (principalmente da China) e as hipotéticas adversidades climáticas (no Brasil, Argentina e Estados Unidos) podem ser capazes de manter os preços nesses patama-res elevados por um bom tempo.

Milho e soja, res-pectivamente, já subiram em dólares no ano cor-rente,  25%  e  14%  e,  em  doze  meses,  43%  e  54%  (fevereiro/21 em comparação a fevereiro/20). Inclusive, alguns analistas apostam até em um novo  “super  ciclo”  das  commodities  (notadamente  petróleo e minério de ferro), sustentado pelo estímulo fiscal e expansão monetária, depreciação do dólar e escassez de melhores alternativas de inves-timento frente à liquidez corrente, muito embora a abrangência da pandemia e a intensidade dos seus efeitos, sabidamente continuarão dosando o nível e a sincronia global de recuperação econômica. Um “super ciclo” é conceituado como o even-to que se repete na linha do tempo e pode ser ob-servado quando o desvio do preço de uma mer-cadoria varia no mínimo 20% sobre sua linha de tendência (altas e baixas), ao longo de décadas, do seu início até o fim.

À título de ilustração, os resultados de estudos do National Bureau of Economic Research (Cambridge/USA) demons-traram que os preços deflacionados das commo-dities agrícolas em 2010 eram mais baixos do que em 1950, e que a partir de 1970, foi possível perceber  uma  onda  descendente  de  preços  que  completou um ciclo de 40 anos em 2010 (David S. Jacks, From Boom to Bust: A typology of real commodity prices in the long run, March 2013).

A  escalada  vislumbrada  seria  mais  um  su-per  ciclo  tendendo  à  valorização  das  cotações  ou,  ao  contrário,  apenas  recuperação  compen-satória pós-baque de 2020?Independentemente da motivação, o incremen-to dos preços do minério de ferro, carnes, milho, so-ja, etc. favorece os países predominantemente ex-portadores dessas commodities, a exemplo do Bra-sil, bastante beneficiado durante a fartura verifica-da entre os anos de 2004 e 2008. Atualmente, con-tudo, a resiliente desvalorização do Real vai impulsionando com força os preços domésticos e justi-ficando o iminente incremento na taxa de juros.

Apesar da escancarada urgência, o Congres-so Nacional continua adiando as reformas (ad-ministrativa, política e principalmente a tribu-tária), enquanto o Executivo teima elevar a ta-xação de diversos setores (petroquímico e finan-ceiro, por exemplo) a fim de “compensar” outros (GLP e diesel), turbinando a percepção que as medidas  populistas  se  sobrepõem  àquela  de-sejada agenda liberal. O crescente descontro-le fiscal continua impulsionando a taxa de ris-co/CDS, aumentando a desconfiança, limitan-do a aposta dos investidores estrangeiros, e en-tão retroalimentando o dólar no ambiente do-méstico,  cujos  consumidores  já  vem  sofrendo bastante com o custo da alimentação inflacio-nado  pelos  preços  no  atacado  que  também  so-frem  os  efeitos  das  cotações  das  commodities. 

Esses eventos repetitivos e sucessivos, combi-nados à falta de imunizantes e ao recrudescimen-to da pandemia da Covid-19 em praticamente to-dos os municípios, mitiga a convicção otimista da recuperação econômica Brasileira no curto prazo.Parece  que  realmente  “Essa  epidemia  não  vai acabar em lugar nenhum, se não acabar em  todos  os  lugares”  (Harvey  Fineberg,  Esco-la de Saúde Pública/Harvard)

fonte: Sindrações, escrita por Ariovaldo Zani