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22/06/2020
Imagem: Banco de Imagens Imagem: Banco de Imagens

As tecnologias digitais da Indústria 4.0 permitem aumentar em 22%, em média, a produtividade de micro, pequenas e médias empresas. O resultado foi obtido no programa-piloto Indústria Mais Avançada, executado pelo Senai com 43 empresas de 24 Estados. Duas indústrias de Mato Grosso do Sul participaram do projeto, que é o 1º a testar no Brasil, em todas as regiões do País, o impacto na produção do uso de ferramentas de baixo custo, como sensoriamento, computação em nuvem e internet das coisas (IoT).

As empresas participantes já possuíam bom índice de produtividade antes do piloto, pois tinham passado pelo Brasil Mais Produtivo. O programa do governo federal, executado pelo Senai, elevou em 52%, em média, a produtividade de três mil micro, pequenas e médias indústrias por meio de técnicas de manufatura enxuta (lean manufacturing). Após as duas etapas de atendimento de consultores do Senai, as companhias aumentaram em 85%, em média, sua capacidade de produzir sem alterar o quadro de funcionários.

“O objetivo do Senai com a experiência-piloto, chamada de Indústria mais Avançada, é refinar um método de baixo custo, alto impacto e de rápida implementação, que ajude as empresas brasileiras a se inserirem na 4ª Revolução Industrial”, explicou o diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi. “A iniciativa do Senai prova que a Indústria 4.0 é para todos: qualquer tipo de empresa, em qualquer estado do Brasil. O resultado nacional é relevante, e, principalmente, houve ganhos significativos para todas as empresas atendidas”, completou.

Segmentos
Os pilotos foram realizados entre maio de 2018 e outubro deste ano em empresas dos segmentos de alimentos e bebidas, metalmecânica, moveleiro, vestuário e calçados. Em Mato Grosso do Sul, as indústrias participantes foram a Cerâmica Volpini, que fabrica produtos em cerâmica vermelha no município de Terenos (MS), e a Macal Soluções em Nutrição, produtora de rações animais em Campo Grande (MS).

Os especialistas do Senai instalaram sensores, que coletam dados, e coletores, que os armazenam. Em seguida, as informações são transmitidas para a plataforma Minha Indústria Avançada (MInA), que permite acesso aos dados de produção da máquina sensoriada. Por meio de tablets e celulares, os gestores podem acompanhar, em tempo real, o desempenho da linha de produção e, com isso, ter maior controle de indicadores do processo e antecipar-se a eventuais problemas. O equipamento custou até R$ 3 mil.

Na Cerâmica Volpini, que tem fábrica com 65 funcionários em Terenos (MS), os sensores foram instalados na máquina extrusora dos blocos de tijolo. Com o equipamento, é possível contar os produtos, medir o retrabalho das peças danificadas e acompanhar, em tempo real, a produção.

Com a nova tecnologia, a produtividade cresceu 8,77%, mas o maior benefício foi ajudar no planejamento e organização do fluxo de trabalho, avaliou Clarissa Zottos Volpini, a técnica em cerâmica da empresa. “A gente já consegue se organizar melhor e temos uma visão mais clara do que está acontecendo no processo produtivo”, disse.

Para ela, as indústrias do segmento, que têm baixa densidade tecnológica, terão de avançar nesse campo, como ocorre em empresas da Itália e da Espanha, que são altamente automatizadas. “O setor cerâmico não é muito tecnológico, porque não é um material tão valorizado. Mas o mercado exige produtos de mais qualidade e, para isso, é preciso investir mais no processo”, explicou.

Na Macal, localizada em Campo Grande (MS), os sensores foram implantados no equipamento misturador de ração, o que elevou a produtividade em 9,47%. A empresa já tinha recebido a consultoria do Senai em manufatura enxuta, no âmbito do programa Brasil mais Produtivo, quando obteve ganhos de 36,96%.

Ganhos
O gerente-executivo de inovação e tecnologia do Senai Nacional, Marcelo Prim, explica que as empresas que obtiveram maiores ganhos com as tecnologias digitais foram aquelas que utilizavam menos técnicas de gerenciamento da produção antes de participar do programa. “A técnica nova, ao ser introduzida em uma empresa que utiliza poucos métodos de gestão, proporciona um ganho maior em produtividade”, afirmou.

Em relação ao segmento da empresa, Marcelo Prim explica que todas as áreas atendidas tiveram, em média, um ganho significativo de produtividade, porém, com pequenas diferenças em relação a quanto cada um conseguiu incorporar a nova tecnologia a seu processo produtivo. “Concluímos que o ganho de produtividade está mais relacionado com o quanto se aprende com o processo produtivo, e como esse aprendizado se transforma em ações concretas. Trata-se mais de uma ciência de dados e de capacitação de pessoas do que de automação de processos produtivos”, disse.

O gerente do Senai explica ainda que as micro empresas foram as que mais se beneficiaram do uso inicial de tecnologias digitais. “É provável que tenha sido a primeira vez que a empresa parou para analisar seu processo produtivo e conseguiu compreendê-lo de uma forma ampla. Com isso os ganhos são imensos”, afirmou. “Observamos que as tecnologias da Indústria 4.0 são uma grande oportunidade especialmente para a micro e pequenas empresas”, complementou Marcelo Prim.

As grandes companhias não participaram deste piloto, pois foram selecionadas participantes do Brasil Mais Produtivo, programa direcionado a pequenos e médios negócios. A análise dos resultados do programa-piloto também mostrou que a percepção do ganho obtido com a tecnologia é muito afetada pelo porte da empresa. As médias e grandes empresas tendem a investir em tecnologias da Indústria 4.0 para dar continuidade aos esforços de aumento de produtividade.

Os micro e pequenos empresários, por sua vez, valorizam mais a agilidade permitida pelo sistema. “O sistema permite aprender com o processo produtivo, diminuindo o tempo de resposta, tornando-o mais ágil e previsível. Garantir que aquilo que o empresário planejou será entregue nos prazos que ele combinou com o mercado traz um nível de competitividade maior para a pequena empresa e ela consegue se inserir mais facilmente nas cadeias de valor”, analisou Marcelo Prim.

O Senai recomenda quatro passos para as indústrias brasileiras se atualizarem tecnologicamente. A digitalização é um dos primeiros degraus no processo. Nesse estágio, as tecnologias ajudam as empresas a conhecerem melhor seu chão de fábrica e a conseguirem se antecipar a eventos como paradas de máquinas, que afetam a eficiência do processo produtivo.

Passo a passo rumo à Indústria 4.0
Enxugar processos: a recomendação é que, antes de digitalizar seus processos, a empresa adote métodos gerenciais e práticas organizacionais, como eficiência energética, produção limpa e manufatura enxuta (lean manufacturing), técnica que reduz desperdícios com medidas de baixo custo, com excelentes resultados no aumento de produtividade.

Qualificar trabalhadores: é fundamental qualificar os profissionais das empresas em técnicas como programação, robótica colaborativa e análise de dados, assim como desenvolver competências socioemocionais com métodos para estimular a criatividade, resolução de conflitos, o empreendedorismo, a liderança e a comunicação.

Empregar tecnologias disponíveis e de baixo custo: o Senai recomenda que as tecnologias digitais sejam empregadas, em um primeiro momento, para que as empresas aprendam o que está ocorrendo no seu chão de fábrica e sejam mais ágeis nas decisões. A sugestão é iniciar pela digitalização – utilização de soluções de baixo custo, como sensoriamento, internet das coisas, computação em nuvem e big data para melhor compreensão do processo produtivo. Em seguida, podem ser utilizadas técnicas como “advanced analytics” e inteligência artificial para prever problemas que afetam a produtividade, como quebras de máquinas.

Investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação: a fim de serem mais competitivas e oferecerem melhores produtos, as empresas precisam investir em inovação. A recomendação é que os empresários tenham como objetivo a implantação de fábricas inteligentes, flexíveis e ágeis, conectadas com suas cadeias de fornecimento e com capacidade de customização em massa de seus produtos, estágio mais avançado da Indústria 4.0.

fonte: Enfoque MS